Autista comemora 6 anos de trabalho após ter oportunidade: ‘É possível’

Heitor Melo conseguiu vaga em uma empresa multinacional de Sorocaba e diz como a experiência o ajudou a desenvolver seu lado social: ‘As primeiras vezes foram difíceis, mas eu fui me acertando’, diz.

Heitor Nicolas Heturi Torelli é um adulto de 31 anos, sorridente, de alta estatura e atento a tudo que acontece em sua volta. A barba por fazer revela um pouco sobre sua personalidade: uma pessoa que gosta de ficar em casa, assistir séries, filmes e, aos fins de semana, passear com a família.

O que o diferencia da maioria das pessoas não são seus hobbies, mas um transtorno de desenvolvimento que reflete em sua vida e afeta sua rotina. Heitor é autista, apesar de ter um grau leve.

Após crescer ouvindo sobre ser diferente, ele buscou deixar o rótulo de lado, se esforçou e conseguiu uma oportunidade no mercado de trabalho.

“É possível crescer e ter uma vida normal. Nós só precisamos ser ajudados e incentivados”, afirma.

Heitor conta como é a rotina de trabalho em uma empresa multinacional
Heitor conta como é a rotina de trabalho em uma empresa multinacional

Em 2012, aos 25 anos, o então estudante da área administrativa começou a trabalhar em uma empresa multinacional de Sorocaba (SP). Ele passou por três setores: engenharia, marketing e recursos humanos.

Em entrevista ao G1, Heitor afirmou que sua dedicação aos estudos e paixão pela área adminsitrativa abriu portas para que pudesse mostrar o que é capaz de fazer.

“As primeiras vezes no trabalho foram difíceis, não vou mentir, mas eu fui me acertando… Conversava com todo mundo e me dava bem, buscava trazer bons resultados”, diz Heitor.

A crise, porém, não perdoou o sonho de Heitor e, em 2016, um corte de funcionários na empresa deixou o jovem sem trabalho.

Heitor com equipe da empresa que trabalhou em Sorocaba (SP) (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
Heitor com equipe da empresa que trabalhou em Sorocaba (SP) (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)

“Por ele ser apaixonado por essa área, eu e a mãe dele resolvemos dar uma oportunidade no escritório de contabilidade da família. Enquanto ele está aqui, pode ir procurando outras vagas”, conta José Maria, pai de Heitor.

Ao G1, José Maria afirmou que o trabalho e o contato com as pessoas fizeram com que o filho progredisse no aprendizado. “Hoje, ele é outra pessoa. Se nós não tivéssemos incentivado ele a trabalhar, estudar, não seria o que é hoje. É tudo uma questão de estímulo.”

O pai diz que, muitas vezes, falta informação sobre como incentivar o autista a desenvolver suas habilidades profissionais. “Por falta de informação, os pais acham que eles são limitados, mas não é assim. Não podemos esconder e fingir que o problema não existe, temos que estimulá-los.”

“O autismo é marcado por uma deficiência na comunicação e interação social. Mas quando eles gostam de um assunto, se aprofundam no tema e estudam bastante sobre isso”, afirma Edyleine Peroni Benczik, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano.

Edyleine Peroni Benczik afirma que o autismo se apresenta de diversas maneiras em cada sujeito e que a interação é fundamental.

“A medida que a pessoa convive com a sociedade, ela passa a desenvolver suas habilidades sociais. É importante que a família e a sociedade estejam capacitadas para lidar com estes casos”, afima.

Edyleine afirma que o transtorno ainda é estudado e não há uma definição correta sobre suas causas, mas Heitor tem um recado para os pais que têm filhos com autismo.

Heitor explica a importância do apoio da família
Heitor explica a importância do apoio da família

Estímulo

Jeane Collaço, Diretora da Associação Amigos dos Autistas (AMAS) e presidente do Conselho da Pessoa com Deficiência de Sorocaba, afirma que apesar de Heitor ter sido contratado pela cota de pessoas com deficiência, isso mostra integração.

“O incentivo é muito importante para criar independência no autista. Pais e o mercado de trabalho precisam entender que o autista tem avanços e a integração é importante para criar independência e qualidade de vida”, diz.

“Admiro a trajetória de Heitor, ele mostra que é possível, mas a dificuldade de inserção existe e falta estímulo de empresas para os autistas”, afirma.

 Associação Amigos dos Autistas (AMAS) auxilia autistas da região (Foto: Amas/Divulgação)
Associação Amigos dos Autistas (AMAS) auxilia autistas da região (Foto: Amas/Divulgação)

Descoberta

Um ano e oito meses depois do nascimento do filho, José Maria percebeu que enquanto outras crianças da mesma idade brincavam e interagiam, Heitor ficava em casa, sentado no sofá e fazendo movimentos repetitivos.

“Nunca tinha ouvido falar em autismo. Quando o médico nos contou o que ele tinha, disse ‘tudo bem, me dá o remédio e vamos curar’. Depois descobri que não é bem assim, é um trabalho de amor diário”, afirma o pai.

Após estudar durante alguns anos em uma escola para crianças especiais, os profissionais de educação sugeriram que o garoto fosse transferido para uma escola comum devido ao seu comportamento e desempenho.

“Estou satisfeito e orgulhoso”, afirma o pai de Heitor ao se lembrar de tudo que o filho conquistou e aprendeu.

Fonte: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/autista-comemora-6-anos-de-trabalho-apos-ter-oportunidade-e-possivel.ghtml

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