Os dentes do bebê contêm informações importantes para detectar o transtorno do espectro autista (TEA). É o que diz o resultado de uma pesquisa feita em conjunto por universidades da Inglaterra, dos Estados Unidos e da Suécia, publicada no final de maio.
Os cientistas observaram que, a cada semana, uma nova camada dentária é formada durante o desenvolvimento fetal e infantil. Esses “anéis de crescimento”, como são chamados, são biomarcadores: neles estão registradas as substâncias químicas que circularam no corpo naquele período. Com um laser, é possível fazer uma inspeção cronológica da exposição a diversos minerais. Ao analisar substâncias como zinco e cobre nessas camadas de dentes de leite, os pesquisadores conseguiram prever com 90% de acerto se as crianças mais tarde desenvolveriam o transtorno do espectro autista.
No final da gravidez e nos primeiros meses após o nascimento, por exemplo, os dentes de crianças com TEA apresentaram maior absorção de chumbo (toxina) e menor absorção de nutrientes essenciais, como manganês e zinco.
Para este estudo, os pesquisadores analisaram dentes de 193 participantes em quatro amostras de casos-controle. Entre eles, 16 pares de gêmeos idênticos e fraternos na Suécia, com pelo menos um irmão que teve um diagnóstico de autismo, já aos 18 anos de idade. Para comparação, eles também analisaram os dentes de 22 gêmeos que estavam se desenvolvendo normalmente.
“Muitos estudos têm sido publicados no sentido de encontrar o que chamam de biomarcador para o TEA. A ideia é determinar um critério orgânico, seja anatômico, seja fisiológico, que revele o diagnóstico precoce. Seria o teste do pezinho do autismo”, compara a pediatra e psiquiatra infantil Raquel del Monde, da Clínica Crescer (SP). “Mas ainda estamos longe”, avisa.
Atualmente, o diagnóstico para o autismo não é fechado antes dos 2 ou 3 anos de idade, pois é preciso analisar uma série de indicadores antes de considerar ou descartar a condição, que tem diversos graus – cada criança autista apresenta uma combinação particular de déficits em comunicação social e déficits comportamentais.
“Temos que ver todos esses exames com muita cautela. Se a gente precisa seguir várias trajetórias para chegar ao diagnóstico, como levar em conta um único biomarcador? Que nível de autismo essa criança teria? Talvez descubram que haja diversos biomarcadores para os diversos tipos de autismo. Por isso, é cedo para colocar as descobertas em prática. Esses exames ainda não podem sair do âmbito da pesquisa”, afirma.
“Nosso estudo é um passo importante para compreender os fatores de risco modificáveis, como a exposição a poluentes ambientais e deficiências alimentares. No entanto, é muito cedo para fazer recomendações clínicas”, afirmou um dos coautores do estudo, Manish Arora, da Icahn School of Medicine de Mount Sinai (EUA), à imprensa internacional.