Sonia Caldas Serra
Podemos lembrar neste momento histórico da pós-modernidade da frase que colocou uma questão a ser pensada: “Não se trata do que a tecnologia pode fazer pelo homem, mas do que as novas tecnologias estão fazendo com o homem”.
As teorias que oferecem matrizes para pensar nos processos de subjetivação mostram-se cada vez mais inviáveis e ineficazes, na medida em que o sujeito da atualidade só pode ser pensando como um individuo imerso no mundo tecnológico.
Desta forma, gostaria de refletir sobre a formação das novas idenficações desse novo sujeito, com o novo objeto – o computador – que permite a comunicação de um com o outro na qual a utilização da palavra falada está subjugada à utilização da imagem virtual, então indagando quais as influências da internet sobre o sujeito.
Pesquisas recentes demostram que as novas realidades virtuais são participantes dinâmicos na forma como o homem contemporâneo constrói a sua identidade, observando que as novas tecnologias, dentre elas a internet, interagem sobre o novo sujeito.
Como é do conhecimento geral, as vantagens e prejuízos vindos da internet estão correlacionados com a utilidade do seu uso, até porque quando ela se torna a exclusiva, ou mesmo a melhor companhia da pessoa, e a palavra se rende à imagem da tela, tal pode gerar o isolamento ou o colapso do relacionamento humano, fazendo da Internet um sintoma contemporâneo que Freud, por óbvio, não conheceu.
Por outro lado, pensando na relação com a máquina robô, sabe-se que nos Estados Unidos e também no Japão vem crescendo a utilização do robô que serve de companhia aos idosos, crianças e às pessoas enfermas, ajudando-os através de diferentes formas.
Haja vista que o tal robô é capaz de tomar o idoso ou a criança nos braços, com delicadeza, colocando-os na cama, na cadeira de rodas ou em qualquer outro lugar desejável.
Mencionados robôs medicam na hora certa, servem alimentos, contam histórias, embalam o sono com músicas suáveis e até apoiam os debilitados, evitando as suas quedas. Em outras palavras, uma maquina – robô que cuida, alimenta e dá conforto, transmitindo a sensação de proteção.
O robô, de nome Keepon, foi criado originalmente para tratar das crianças autistas, para facilitar o desenvolvimento social e interpessoal com outras crianças, já o seu amigo robô Petman imita o corpo humano, sendo capaz de caminhar, correr, escalar e dançar, como se fosse uma pessoa real envolta por uma película semelhante a da textura e temperatura da pele do ser humano.
Temos ainda robô inteligente, que tem rede neurais artificiais, que procura imitar o funcionamento do cérebro, até porque são capazes de tomar decisões cada vez mais complexas, demostrando emoções e sentimentos na interação com os humanos.
Podemos dizer que estamos diante de um relacionamento no qual um dos elementos do binômio é uma máquina que oferece cuidados, proteção e atenção a um humano? Até que ponto este vínculo “homem – máquina” pode afetar o psiquismo?
A questão que levanto, a ser pensada, é a seguinte: esta “mãe-robô” pode ser entendida como “mãe – ambiente” com a qual o ser humano pode estabelecer uma relação de confiança afetuosa? Podemos pensar numa divisão entre mãe real e mãe robô – objeto?
Também podemos nós indagar-se no mundo virtual o participante pode ensaiar comportamentos desviantes, na medida em que o sujeito da internet está protegido pelo anonimato, não correndo, por isso, os riscos da punição pelos seus atos. Poderíamos até supor que os aspectos mal resolvidos da personalidade possam encontrar espaço na internet para serem expressados, já que o sujeito supostamente gostaria de realizá-los no mundo real?
A internet pode ser então um lugar autêntico para atuação, como o lugar também para elaboração?
Podemos questionar, portanto, se a internet pode ser utilizada como um espaço onde o sujeito pode se valer para elaborar questões não resolvidas na sua vida real?
Por outro lado, lembramos que a psicanálise sustenta que o sujeito é constituído por subjetivações e por identificações. Portanto, ela, melhor do que qualquer outra disciplina, tem algo a falar sobre os espaços virtuais nos quais é muito provável que cada um de nós, neles, projete diferentes aspectos de si mesmo.
Podemos levantar questão da ética para esse novo sujeito de múltiplas identidades e subjetivações, questionando se a ética da internet é diferente da ética que já conhecemos. Falando de forma simples, a ética trata da forma como as pessoas, entre si, se relacionam. A internet não deixa de ser uma forma de relacionamento virtual, portanto ela vai acabar por reclamar regras éticas para discipliná-la.
Então, como a internet não deixa de ser uma forma de relacionamento virtual, ela acabará por reclamar regras éticas para discipliná-la.
A internet certamente está mudando o psiquismo humano, na medida em que as novas realidades virtuais agem sobre o sujeito, então participando na forma como o homem contemporâneo constrói as suas novas identificações.
Alguns questionamentos se tornam necessários:
· E possível a elaboração de conflitos através das simulações virtuais?
· A internet pode ajudar a constituir e inventar um eu?
· A internet pode alienar o sujeito num mundo virtual, não real?
Sonia Caldas Serra
Trabalho apresentado no Círculo Psicanalítico – Grupo de Estudos – Psicanálise e Cultura – 2013